dOM cARLOS O PIONEIRO
O PIONEIRISMO DO BISPO DE MAURA
Artur Pinheiro*
Dom Carlos Duarte da Costa, de quem já tivemos a oportunidade de comentar em outras ocasiões, foi pioneiro em muitas práticas da Igreja no Brasil. Ainda quando a missa era celebrada em latim, nas décadas de 40 e 50 do século passado, D. Carlos iniciou a celebração em nossa língua, demonstrando a sua visão de futuro e seu espírito revolucionário, para a época. Passaram-se aproximadamente 20m anos para a Igreja Católica reconhecer essa necessidade, o que viria ocorrer com o Concílio Vaticano II na década de sessenta.
Seguiu piamente a orientação do apóstolo Paulo na epístola a Tito, no que diz respeito ao clero e assim ordenou padres casados na Igreja sob sua direção. Neste sentido resgatou uma luta antiga do clero brasileiro, encabeçada pelo Pe. Diogo Antônio Feijó, para que na Igreja do Brasil os Padres pudessem ser casados, já que o celibato obrigatório não era bíblico. Esta decisão histórica prevalece até hoje na Igreja Católica Apostólica Brasileira – ICAB e é comum nas Igrejas Católicas Orientais, mas ainda não foi possível na Igreja Romana.
Foi um dos pioneiro, também , na discussão da questão da terra, da reforma agrária, um tabu da sociedade brasileira que ideologicamente foi sempre relacionado ao comunismo, mascarando uma profunda estrutura de desigualdade socioeconômica da sociedade brasileira. Sua posição é muito clara em favor de uma reversão desse quadro, que à época era muito mais sombrio do que hoje. Não sei se seria exagero afirmar que Dom Carlos, guardadas as proporções, foi um dos precursores da Teologia da Libertação no Brasil.
Ainda quando nem se falava em Divórcio, num tempo em que o Divórcio não fora aceito nem pelo Estado, para o casamento civil, Dom Carlos já aceitava o Divórcio, inclusive para a realização do segundo casamento religioso. Este prática, também ainda não foi aceita pela a Igreja Católica Romana, mas é adotada por várias igrejas cristãs, dentre elas a ICAB. Por outro lado a lei brasileira só veio a regulamentar o Divórcio no final da década de 70, numa batalha política e jurídica cujo líder foi o ex-Senador Nelson Carneiro – RJ.
No campo do ecomenismo, é incomensurável a compreensão e o respeito de Dom. Carlos pelas outras religiões, inclusive o Candoblé e o Espiritismo. Neste particular só está no mesmo nível de Dom Carlos o próprio espiritismo Cardecista, que tem um profundo respeito por todas as religiões. O que é marcante na trajetória de Dom Carlos é uma carta de um Padre informando-lhe que celebrara a missa em um terreiro de Umbanda, no que o seu Bispo faz um grande elogio, mostrando a sua convicção de diálogo com todas as religiões.
Pena é que a sociedade brasileira conheça muito pouco sobre a vida e a obra deste grande revolucionário que foi Dom Carlos Duarte da Costa, conhecido à época por Bispo de Maura. Ele deveria ter por parte de nós pesquisadores e pelo povo brasileiro, a mesma importância que tem Lutero para o povo alemão.
*Francisco Artur Pinheiro Alves é Prof. da UECE, Secretário de Cultura de Capistrano e Presidente do Partido Verde em Capistrano.
Artur Pinheiro*
Dom Carlos Duarte da Costa, de quem já tivemos a oportunidade de comentar em outras ocasiões, foi pioneiro em muitas práticas da Igreja no Brasil. Ainda quando a missa era celebrada em latim, nas décadas de 40 e 50 do século passado, D. Carlos iniciou a celebração em nossa língua, demonstrando a sua visão de futuro e seu espírito revolucionário, para a época. Passaram-se aproximadamente 20m anos para a Igreja Católica reconhecer essa necessidade, o que viria ocorrer com o Concílio Vaticano II na década de sessenta.
Seguiu piamente a orientação do apóstolo Paulo na epístola a Tito, no que diz respeito ao clero e assim ordenou padres casados na Igreja sob sua direção. Neste sentido resgatou uma luta antiga do clero brasileiro, encabeçada pelo Pe. Diogo Antônio Feijó, para que na Igreja do Brasil os Padres pudessem ser casados, já que o celibato obrigatório não era bíblico. Esta decisão histórica prevalece até hoje na Igreja Católica Apostólica Brasileira – ICAB e é comum nas Igrejas Católicas Orientais, mas ainda não foi possível na Igreja Romana.
Foi um dos pioneiro, também , na discussão da questão da terra, da reforma agrária, um tabu da sociedade brasileira que ideologicamente foi sempre relacionado ao comunismo, mascarando uma profunda estrutura de desigualdade socioeconômica da sociedade brasileira. Sua posição é muito clara em favor de uma reversão desse quadro, que à época era muito mais sombrio do que hoje. Não sei se seria exagero afirmar que Dom Carlos, guardadas as proporções, foi um dos precursores da Teologia da Libertação no Brasil.
Ainda quando nem se falava em Divórcio, num tempo em que o Divórcio não fora aceito nem pelo Estado, para o casamento civil, Dom Carlos já aceitava o Divórcio, inclusive para a realização do segundo casamento religioso. Este prática, também ainda não foi aceita pela a Igreja Católica Romana, mas é adotada por várias igrejas cristãs, dentre elas a ICAB. Por outro lado a lei brasileira só veio a regulamentar o Divórcio no final da década de 70, numa batalha política e jurídica cujo líder foi o ex-Senador Nelson Carneiro – RJ.
No campo do ecomenismo, é incomensurável a compreensão e o respeito de Dom. Carlos pelas outras religiões, inclusive o Candoblé e o Espiritismo. Neste particular só está no mesmo nível de Dom Carlos o próprio espiritismo Cardecista, que tem um profundo respeito por todas as religiões. O que é marcante na trajetória de Dom Carlos é uma carta de um Padre informando-lhe que celebrara a missa em um terreiro de Umbanda, no que o seu Bispo faz um grande elogio, mostrando a sua convicção de diálogo com todas as religiões.
Pena é que a sociedade brasileira conheça muito pouco sobre a vida e a obra deste grande revolucionário que foi Dom Carlos Duarte da Costa, conhecido à época por Bispo de Maura. Ele deveria ter por parte de nós pesquisadores e pelo povo brasileiro, a mesma importância que tem Lutero para o povo alemão.
*Francisco Artur Pinheiro Alves é Prof. da UECE, Secretário de Cultura de Capistrano e Presidente do Partido Verde em Capistrano.
Comentários
Salve!
Foi com grande alegria que encontrei este sítio de reflexões sobre o Bispo de Maura e sua obra.
Dom Carlos Duarte Costa foi efetivamente um precursor da Teologia da Libertação.Dom Carlos, a meu ver, não apenas antecipou a temática da Teologia da Libertação, mas construíu e utilisou boa parte da terminologia, das categorias de análise e chaves hermenêuticas mais tarde empregada pelos militantes dessa escola, tendo inclusive intuído os seus pressupostos epistemológicos. Na contra-capa do livro "Igreja Brasileira: Abençoada Rebeldia" de Dom Geraldo Albano de Freitas (CET-ICAB, São Paulo 1987) há uma espécie de apresentação da obra feita por Dom Agnaldo Soares Silva, então bispo diocesano de São Paulo, onde ele defende exatamente essa tese. Que bom que começamos a caminhar. Vamos em frente!