CONTRIBUIÇÃO DE pe. Marcelo Pires de Nova York

ICAB - CETAS
CETAS - Centro de Estudos Teologicos e Acao Social
Saturday, November 10, 2007
Espiritualismo e Catolicismo - Umbandismo e Kardecismo

ESPIRITUALISMO E CATOLICISMO BRASILEIRO
Umbandismo e Kardecismo sob a perspectiva Icabense
Pe. Marcelo Pires

ÍNDICE

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I
Aproximação entre a ICAB e o Espiriualismo
1. Razão dessa aproximação
2. Razão Política
3. Razão Econômica
4. Razão Teológica

CAPÍTULO II
Visão Icabense sobre o Espiritismo
5. Visão Científica
6. A Grande Síntese
7. O Arqueômetro
8. Visão Religiosa
9. Visão Doutrinária

CAPÍTULO III
Visão Icabense sobre o Umbandismo
10. Visão Antropológica
11. Visão Religiosa
12. Religiosidade Indígena
13. Religiosidade Africana
14. Religiosidade Católica
15. Visão doutrinária

CONCLUSÃO


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ESPIRITUALISMO E CATOLICISMO BRASILEIRO
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INTRODUÇÃO

Quando deixamos a brilhante luz do dia e penetramos em um lugar obscuro, como por exemplo, uma sala de cinema, necessitamos algum tempo para acomodar nossa vista às novas condições que nos são apresentas pela escuridão. Do mesmo modo, ao ingressarmos na intrigante relação, ecumenicamente experimentada, entre a ICAB e o espiritualismo, nos deparamos com um envolvimento tão pouco habitual, que pode servir de desafio aos interessados nas Religiões Comparadas. Entretanto, para que esta comparação seja coerente e justa, necessário se faz acomodar e entender cuidadosamente os motivos históricos que induziram este relacionamento. Como pôde um segmento católico relacionar-se com um segmento espiritualista? Antes de procurar respoder a esta pergunta, precisamos esclarecer algumas questões que certamente fascilitarão o entendimento dessa intrigante aliança.
São Carlos do Brasil era um apaixonado pela disciplina História das Religiões, também conhecida como Religiões Comparadas. Esse termo se originou no fim do Século XX para indicar uma das ciências baseadas nas teorias da evolução de Darwin e Spencer. Enquanto um entusiasta desta disciplina, o fundador da ICAB descrevia as diferentes religiões, comparando-as e assinalando-as em uma escala evolucionista. Seu interesse era especialmente enfocado no problema das origins da Religião. Sua posição enquanto erudito das Religiões Comparadas era a de que todas as religiões eram dignas de um desapaixonado estudo como fenômeno. Os primeiros representantes dessa nova maneira de entender o fenômeno religioso inclue Max Muler, C. P. Tiele, J. G. Frazer, W. R. Smith e A. Lang. Os adeptos dessa corrente eram classificados de cristãos liberais e seus divulgadores, como São Carlos, de modernistas.

CAPÍTULO I

Aproximação entre a ICAB e o Espiritualismo

Vamos iniciar esta reflexão acera da aproximação e das relações mantidas entre a Igreja Católica Brasileira e as crenças espiritualistas, propondo e tentando entender algumas das principais questões advindas desse relacionamento.
São Carlos do Brasil, o fundador da ICAB, necessitou manter, desde a institucionalização da Igreja, um estreito relacionamento para com estas organizações religiosas. O que primerio devemos tentar, pois, é compreender os motivos que o levaram a esta aproximção. Apartir, daí procuraremos decifrar os aspectos positivos ou negativos, adquiridos pela ICAB, por conta desta aproximação.
A palavra espiritualismo designa um complexo sistema de crenças difundidas no Brasil através de específicos grupos religiosos, que, às vezes, se identificam com o Catolicismo
Popular, não institucional. Não vamos nos deter neste complexo sistema, mas simplesmente assinalá-lo aquí, designando-o ora como Umbanda ora como Espiritismo.O Umbandismo é uma crença com elementos africanos fetichistas desenvolvida no Brasil através dos negros escravizados. Se caracteriza por um alto grau de sincretismo ritual com o Catolicismo Romano e com as práticas religiosas dos indígenas. Já o Espiritismo é
uma crença que fundamenta-se em uma possível comunicação entre os vivos e os mortos.
Nega a doutrina da Trindade e da divinização de Cristo e, consequentemente, sua ressurreição. O Espiritismo, ao contrário do Cristiansimo, defende a tese da reencarnação.

1. Razões desta aproximação

Definidas suncitamente essas crenças espiritualistas, exploremos agora, panoramicamente, os motivos que levaram São Carlos e consequentemente a ICAB, a dialogar ecumenicamente com estes grupos.
Veremos, assim, que foram três as razões que os levaram a essa aproximação: primeiro, a Razão Política; segundo, a Razão Econômica; terceiro, a Razão Teológica.

2. Razão Política

Fundamenta-se no princípio constitucional da separação entre a Igreja e o Estado. O fim do Padroado, conquistado pela Constituição Brasileira de 24-02-1891, outorgava aos brasileiros a plena liberdade de culto e de religião. Mas em 1948, arbitrariamente, a ICAB foi obrigada pelo Governo Federal, incitado pela Igreja Romana, a fechar os seus templos e as suas escolas. Evidentemente que outros grupos religiosos como os protestantes e os espiritualistas, temendo futuramente sofrerem as mesmas perseguiões, publicamente sairam em defesa da Igreja Brasileira.
Mais tarde, após a ICAB conquistar na Justiça o direito de atuar no país; ainda assim, continuou lutando contra o catolicismo tradicional para que esta liberdade conquistada fosse mantida.
Em 1956, o bispo de Maura voltou a desentender-se com a Igreja Romana e com o Estado Brasileiro. Estes, tentaram proibí-lo de participar, em São Paulo, da missa comemorativa do décimo aniversário da sagração do bispo icabense Dom Jorge Alves de Souza. Tal arbitrariedade inconstitucional causou indignação a muitos paulistas. Após o fundador da ICAB ter conseguido, através de um Mandato Judicial, a garantia da realização da missa festiva, ele foi surpreendido ao ver entre a multidão de católicos brasileiros, que participavam daquela celebração, destacar-se a Federção Umbandista, representada com mais de quarenta tendas. É registrado que “as tendas umbandistas aproveitaram a ocasião para, além de homenagear o bispo, prestar uma manifestação pública à liberdade de culto.”(1)
Operava-se aquí, uma mudança radical, com respeito à concepção que tinha São Carlos, acerca dessas crenças espiritualistas. Estava assim, pela primeira vez no Brasil, sendo realizada uma Missa Católica com ritos africanos. “Ao lado das batinas negras dos sacerdotes católicos, caminhavam pomposas vestes de cetim branco dos babalaôs. “(2)
Por isso, considero eu, que a Razão Política em seu aspecto constitucional, deve ser afirmado a todo custo , como um dos elementos que induziram São Carlos a dialogar com o espiritualismo.




3. Razão Econômica

O elemento histórico que levou a ICAB a relacionar-se com o espiritualismo, baseia-se no fato da escassês de recursos financeiros para a construção de templos, e na escassês de fundos para a divulgação e publicação de revistas.
Na verdade, a Igreja Brasileira era carente de templos ao instituir-se no país, e, tão somente por esta razão, São Carlos, ao divulgar o seu movimento de libertação religiosa, não hesitou em procurar a associção espiritualista Fraternidade Eclética. Alí pode ele difundir seu pensamento; ou seja, que as religiões diferentes, poderiam, civilizadamente, manter um diálogo ecumênico. Esclareceu pois, o próprio bispo:
“Andava a procura, no centro da cidade, de um predio amplo onde pudesse oficiar missas. Entrevistei-me, então, com os dirigentes da Fraternidade Eclética. Fui bem recebido. Assim vamos estabelecer o culto ali, diariamente. Tanto minha Igreja como aquela organização não combatem religião alguma. Porque realmente, Cristo não é propriedade exclusiva de uma religião, mas da humanidade. Todos os que seguem o Evangelho são cristãos, embora sejam outros os rumos. “(3)
A necessidade financeira, sem duvidas, foi um elemento determinante para que a ICAB utilizasse os centros espiritas e as tendas umbandistas para divulgar um tipo de Catolicismo mais proximo à realidade do povo brasileiro, valorizando dessa forma, os seus ricos elementos culturais.
Pois bem, o êxito que logrou a ICAB na divulgacão da sua doutrina, em parte, só foi possível, graças a ajuda financeira, indiretamente oriunda dos grupos espíritualistas. A Revista Luta, responsável por sua divulgção doutrinária não era um órgão oficial da ICAB; mas sim, oficioso. Oficioso porque as publicações eram destinadas aos leitores não unicamente católicos, mas também pertencentes a outros credos religiosos, sobretudo os espiritualistas. Por exemplo, Domingos Magarinos, um espírita kardecista, era um grande colaborador da Revista e responsável pelas publicações de caráter espiritualista. Evidentemente que havia uma certa manipulção nas publicações, sobretudo quando o bispo de Maura já se encontrava idoso, cansado e enfermo. Publicações da lavra de São Carlos, às vezes, eram publicadas anonimamente; e, publicações alheias a sua autoria, eram publicadas como se dele fossem.
Pois bem. Era necessário, naquele momento específico, que a ICAB utilizasse as tendas umbandistas e os centros espíritas para oficiar as missas. Os cultos públicos da ICAB, quer fossem em praças ou escolas, geralmente eram proibidos pelo Governo Brasileiro. Ora, da mesma maneira que os primeiros cristãos souberam utilizar as catacumbas, nos cemitérios, para adorar ao seu Deus, protegendo-se assim das perseguiões empreendidas pelo Governo Romano; São Carlos, semelhantemente, soube utilizar essas organizaões para oficiar suas missas, fugindo das perseguiões empreendidas pela Igreja Romana através do Estado Brasileiro.
Quanto ao apoio financeiro desses grupos, São Carlos declarou: “Chegou o momento da ICAB manifestar aos Centros Espíritas…, sua profunda gratidão, pela simpatia demonstrada à Igreja Nacional, nos dias das perseguições movidas pelo Governo Federal, instado pelo Vaticano… era meu dever cristão agradecer a todos o conforto moral espiritual e, de alguns Centros, até o financeiro, e é o que estou fazendo.”(4) Dizia ainda: “Em se tratando de auxílios pecuniários, que os Centros desejam dar à ICAB, para a construção do seu Templo e as suas obras em geral, a única pessoa apta a receber dontaivos e esmolas é a tesoureira da Irmandade de Sta. Ana. “(5)
Dessa maneira, soube a ICAB driblar a sua deficiência econômica e juntar-se com os segmentos espiritualistas para poder divulgar seu ideal cristão de Justiça, Paz e Liberdade.
O êxito logrado pela ICAB através dessa aproximção ecumênica para com o espiritualismo, foi oferecer para o Catolicismo a oportunidade de ser mais tolerante para com aqueles que pensam distinto. Dizia São Carlos: “O Espiritismo, embora não seja uma fé absoluta, todavia, constitui um grande fator para a Verdadeira Fé. “(6)

4. Razão Teológica

Porém, a terceira Razão que impulsionou a ICAB a dialogar com os grupos espiritualistas é muito mais fascinante. A Razão Teológica baseia-se em sua prática altamente ecumênica e na necessidade mesma de trabalhar os elementos comuns em religiões historicamente distintas.
São Carlos, enqunto pesquisador das Religiões Comparadas necessitava aproximar-se dos mais variados segmentos religiosos, inclusive do espiritualismo. Buscava ele definir, nestas crenças, os elementos essênciais que nutriam em seus adeptos a esperança da solução dos seus problemas. Contactar-se com estas crenças era buscar em um passado primitivo, evidências que podessem justificar as teorias evolutivas do sentimento religioso.
Desta maneira, ele assinala que antes de desenvolver-se, o sentimento religioso passou etapas evolutivas, iniciando-se por atos mágicos. Instintivamente o homem adorava deuses sem classificá-los ou dogmatizá-los. Por meio da feitiçaria os primitivos entravam em comunhão com esses deuses para oferecer-lhes sacrifícios e exigir deles, benefícios. Inicialmente a religião foi praticada antes de conhecê-la bem, através do culto. O sentimento religioso no homem, ao desenvolver-se, chegou a produzir sofisticadas construções metafísicas ou arroubos místicos, como é o caso dos grandes apóstolos do cristianismo.
A Razão Teológica que inpulsionou São Carlos a dialogar com essas organizações espiritualistas, justifica-se, pelo fato de ele, mesmo confessando uma fé distinta, poder reconhecer nelas a possibilidade de evoluirem-se. Para ele, conhecer e praticar bem a religião é entender a mensagem do dôce Cordeiro de Nazaré em sua premissa: Amar ao próximo como a si mesmo e não fazer com o outro aquilo que não deseja para si.
Evidentemente que o tipo de Cristianismo apresentado pela ICAB para com estes grupos, era um Cristianismo muito mais tolerante e flexível que o apresentado pelo Catolicismo Romano.
Entretanto, a Igreja Romana, acusava as crenças primitivas de bárbaras, selvagens e heréticas. São Carlos, ao contrário, percebia nas crenças espiritualistas; apesar de estas preservarem elementos primitivos, um bom campo para semear os ensinamentos cristãos. Dizia ele: “As Igrejas Nacionais deveriam buscar unir todos os credos, todas as ideologias, todos os povos, em redor do ensinamento de Cristo, não fazendo deste propriedade sua, considerando Cristo, e seus ensinamentos, verdadeiro patrimônio religioso e moral da Humanidade inteira. “(7)

CAPÍTULO II

Visão Icabense sobre o Espiritismo

Nas razões anteriores não chegamos a entender claramente qual a visão dispensada pela ICAB para com essas crenças espiritualitas. Qual a concepção do seu fundador, enquanto pesquisador, acerca de crenças tão distintas da fé confessada por ele próprio? Pois bem, a visão que a Igreja Brasileira tinha para com essas religiões espiritualistas, pode ser analizada através de três formas distintas: Primeiro, a Visão Científica; segundo, a Visão Religiosa; terceiro, a Visão Doutrinária.
Vamos tentar – a coisa não é fácil – com alguma exatidão, procurar entender as Visões que o bispo de Maura dispensava acerca do Espiritismo, quer o de modalidade Kardecista, quer o de modalidade Científica.

5. Visão Científica

Começemos pois, com a Visão Científica, ou seja; com a possível disposição do Espiritismo em utilizar a Ciência como um meio eficaz para a sua auto afirmação.
São Carlos, apesar de ser um homem de Fé, era fascinado pelo saber científico, e um entusiasta no que se refere ao progresso da civilização humana. Dessa maneira, portanto, ele se aproximava das Organizações Espíritas. E, Espiritismo aquí, deve ser entendido tão somente como Espiritismo Científico, que nada tem que ver com kardecismo ou crença reencarnacionista.
Sendo assim, dois trabalhos científios acerca do Espírito Humano, tiveram grande influência em seu pensamento. O primeiro foi A Grande Síntese do italiano Pietro Ubaldi; o Segundo foi O Arqueômetro do francês Saint-Yves D’Alveydre.

6. A Grande Síntese

Escrito em 1935, propõe sintetizar o Evangelho e a Ciência; e, por conseguite, o saber humano. Busca solucionar plausivelmente os problemas universais, desde a estrutura do átomo e a comparação química da vida até as questões puramente religiosas e sociais.
Certamente A Grande Síntese contribuiu para a produção teológica monista da ICAB no combate à idéia antropomórfica de Deus.
Foi sem dúvida, o caráter lógico e rigorosamente científico desta obra, o elemento que induziu São Carlos a indicar este livro como um importante veículo para o entendimento da sua concepção monista cristã. Na realidade, a tendência espírita de Pietro Ubaldi, em nada desmerece o rigor científico exposto em seu trabalho acadêmico. Ademais, ao aceitar o conceito de Religião como Ciência da Substância, São Carlos intentou, por meio da fé icabense, restaurar o messianismo de Cristo sob princípios acadêmicos. Estes ligariam todas as religiões sinceras sob uma base evolutiva, apontando para a Verdade Suprema que está no infinito.
Ele não temia confrontar o Evangelho com a Ciência, pois entendia que ambos os caminhos confluem. Ora, entender o Evangelho como a mais alta Verdade, todas as outras verdades menores da Ciência, para o Evangelho deveriam convergir. Entretanto,
ocultar verdades fora da Verdade Científica, seria negar a manifestação divina, seria

negar o Cristo, seria negar o Evangelho.
Enfim, apesar de enaltecer a primeira edição de A Grande Síntese, São Carlos alertava
para deformações ocorridas nas edições posteriors. É que em suas Profecias, o autor havia desviado-se da sua meta, devido a evolução política da Itália depois da Segunda Guerra Mundial.

7. O Arqueômetro

O Segundo trabalho científico de caráter esotérico-cristão acerca do Espírito Humano, que certamente enriqueceu o pensamento de São Carlos foi O Arqueômetro, do qual se serviram os antigos para a constituição de todos os mitos esotéricos das religiões. As interpretações das palavras de Moisés, decodificadas em O Arqueômetro, provavelmente o influenciaram em sua visão científica acerca do fenômeno religioso característico do Espírito Humano.
Verdadeiramente, mais que anticlericalismo ou antipapismo, o que mais São Carlos desfrutou nesta obra foram as contribuições filológicas transmitidas pelo autor, para melhor entendimento das Sagradas Escrituras. O conhecimento do hebráico e do sâncrito bem como das línguas primitivas, das quais os hierógliflos e o chinês são adaptações; foi sem dúvida, muito apreciado pelo bispo brasileiro.
As possíveis experiências esotéricas desse autor francês não foram os motivos que levaram São Carlos e a ICAB a apoiarem e recomendarem esta obra, mesmo porque, tais experiências, não tinham nada em comum com o Espiritismo Kardecista que, aliás, o próprio Saint-Yves proibia.
O Arqueômetro pretende devolver, cientificamente, ao Cristo, o lugar prepoderante que ele ocupa no invisível.
Dentro da necessária brevidade deste estudo, temos já um vislumbre de uma das visões dispensadas pela ICAB para com o Espiritismo. Como vimos, o aspecto científico pretendido por essa modalidade de espiritualismo, foi o fator que fascilitou um diálogo entre essa organização religiosa. Mas, como era de se esperar, por conta deste diálogo ecumênico, o bispo brasileiro foi acusado de ser um espírita. Entretanto, ele refutava afirmando: “Eu já me manifestei pelo Espiritismo Científico, por essa declaraão, coloco a ICAB acima de todo e qualquer Espiritismo, acima de toda e qualquer modalidade de Espiritismo, que não seja científico, onde, um dia, chegarão todos os Credos Religiosos ou não, para que se cumpra as palavras de Cristo: Um só Rebanho e Um só Pastor, onde o Gênero Humano é o rebanho e Cristo o Pastor. “(8)

8. Visão Religiosa

Sem confundir-se nunca, a ICAB e o Espiritismo respeitam-se mutualmente. Apesar de distintas, sob o ponto de vista objetivo, ambas são consideradas como um produto do Espírito Humano; e, como tal, devem ser observadas e comparadas.
Para São Carlos, todas as religiões possuem grandes afinidades em muitos pontos. Esses aspectos comuns que as diferentes religiões possuem não devem ser entendidos como mera imitação. Esse algo em comum inerente a todos os segmentos religiosos tem como
base a unidade do Espírito Humano.
A Religião Verdadeira, ou dito melhor, o verdadeiro sentimento humano sustentado pela Religião, tem sobrevivido à todas modalidades particulares das várias religiões existentes,
como a árvore sobrevive à queda periódica dos seus frutos.
Apesar de distinta, a ICAB nega-se a conceituar o Espiritismo como um religião falsa. Segundo seu entender, essa questão carece de sentido, se por religião se entende a constituição fundamental do Espírito Humano na busca da Divindade. Uma religião, neste sentido, não pode ser conceituada de verdadeira ou falsa; já que o Espírito Humano também não pode ser conceituado verdadeiro ou falso.
Entretanto, São Carlos faz uma importante distinção entre as religiões sob o ponto de vista evolutivo. Quando ele aponta o Espiritismo como uma fé não absoluta; e, no tangente à interpretação dos Evangelhos, como que desviante para outros rumos, ele certamente está qualificando o Espiritismo como uma religião menos evoluida. Em outras palavras, o sistema de mundo constituído sob a base religiosa do Espiritismo, é um sistema carente de evolução, isto por prender-se às formas vazias de transcendência. Ao abolir os fundamentais conteúdos da fé ele se paraliza e se afasta do caminho que conduz à pujanza de vida.
Já o Catolicismo Brasileiro, cuja fé é baseada e firmada nos Credos Históricos da cristandade, apresenta-se como um tipo de religião evoluida, isto por entender que essas personalidades geniais e criadoras, satisfatoriamente conseguiram formular a fé cristã através de princípios que desafiam as gerações vindouras. Afirmava o fundador da ICAB que: “Os homens religiosos dos Credos Históricos tinham Deus dentro de si e for a de si, e afirmava ainda: Os Evangelhos, descrevendo-nos o Cristo, são páginas de profissão de fé da comunidade primitiva, de cuja vida quer viver a Igreja Brasileiura. De sua leitura meditada, verifica-se o cuidado apostólico de transmitir o Cristo, à posteridade, isento do judaismo ou do paganismo. Grande é a responsabilidade da ICAB, na transmissão moral e espiritual de Cristo, desse Cristo Evangélico, deformado por homens de Concílios.” (9)

9. Visão Doutrinária

O aspecto central da doutrina Espírita é que Deus é Amor. Cristo é concebido como um médium, um espírito especialmente elevado. O gozo de um estágio espiritual evoluído é conquistado através de sucessivas reencarnações que tem como objetivo corrigir os erros cometidos nas vidas passadas.
Apesar de sustentarem doutrinas opostas acerca de Jesus, a ICAB e o Espiritismo possuém algo em comum. Esse algo em comum, característico em todas as religiões, sejam elas cristãs ou não, é procurar contactar o ser humano com a Divindade.
Entendia São Carlos que diferentes religiões, ou até mesmo livres pensadores, às vezes, apresentam diferentes concepções acerca de Jesus. Sendo assim, naturalmente, alguns exploravam de Jesus apenas o seu aspecto Filosófico, outros o seu aspecto Revolucionário e ainda outros, como o Catolicismo Romano, enfatizavam apenas o seu aspecto Divino Transcendental. A ICAB, por sua vez, procurava refletir sobre o Jesus Histórico, o Jesus Humano. Declarava pois o fundador da ICAB: “Em Cristo há duasvidas indissoluvelmente unidas de maneira inefável: a humana e a divina, na pessoa do Verbo, que sustenta com sua própria existência divina a natureza humana, sendo perfeito Homem e perfeito Deus.”(10)
O papel primordial da ICAB, neste contexto, foi o de promover a união entre todas as religiões, credos ou ideologias em redor dos ensinamentos de Cristo. Estes são identificados como um verdadeiro patrimônio religioso e moral de toda a Humanidade;e , não apenas de um único segmento religioso particular. Sendo assim, nada mais natural que a ICAB, ecumenicamente, procurasse manter, devido as delicadas circunstâncias da época, um diálogo ecumênico para com o Espiritismo.
Dizia São Carlos: ”O movimento das Igrejas Nacionais, visa centralizar a Pessoa de Cristo, procurando a harmonia e a concórdia entre todas as religiões. ”(11)
Entretanto, dialogar com o Espiritismo, não significaria, necessariamente, que a ICAB substituiria sua compreensão católico-cristã pela concepção kardecista.
Diferentemente do Espiritismo, a ICAB crê na Ressurreição de Cristo e o confessa como Verdadeiro Deus. Sua morte e ressureição foram suficientes para garantir à toda Humanidade a Salvação. Àqueles que aceitam e confessam essa Verdade, demonstram que compreenderam o natural processo evolutivo do sentimento religioso e aguardam, com esperança, o retorno daquele que para os céus subiu. Dizia São Carlos: “O Crsitianismo tem suas miras para o porvir, aguardando a Segunda vinda de Cristo, o Reino de Deus, o fim do mundo no qual tem ele seu sentido, sua razão de ser. “(12)
Para o bispo brasileiro, a união entre as religiões era necessária para que a Salvação se estendesse universalmente à toda Humanidade; e, não apenas, ao monopólio de uma única denominação religiosa. Acerca da Redeção Universal ele declarava: “Se substituisse um Inferno com um só homem condenado, o sangue de Jesus teria corrido em vão e a Redenção seria uma ironia. “(13)
Seu desejo era que todos, independentemente da religião professada, podessem experimentar essa Graça da Salvação, já que Jesus Cristo veio trazer a Salvação à toda humanidade; e, não apenas a um grupo específico.
Na tentative de manter este discurso em prática, São Carlos chegava mesmo a mudar a sua linguagém teológica por uma linguagém mais próxima à realidade espírita. Dizia ele: “Creio na mediunidade. O Espiritismo também realiza curas. Tem sido registrados casos de operações pelos espíritos. Contudo, há ainda muita coisa a ser descoberta no Espiritismo. Outro tanto, são do conhecimento de quase todo o país, de curas miraculosas do Padre Antonio, de Minas Gerais. Eu creio no Espiritismo. As curas obtidas por intermédio do Espiritismo advém da fé, que é poderosa força espiritual. “(14)
É portanto, a Redenção Universal, oferecida por Cristo à toda Humanidade, sem excesão de raça, religião, ou condição social, o alvo para onde aponta a doutrina icabense. Diferentemente, a doutrina espírita aponta para um Evolução Individual através de reencarnações sucessivas.
Sem embargo, apesar dessa abertura religiosa, algumas vezes, eram sucitados boatos, geralmente oriundos de setores romanos, que São Carlos regeitava e discriminava veementemente o Espiritismo; e, esse aparente diálogo, era mantido apenas com o objetivo de usar os espíritas para fazer frente contra o romanismo. Entretanto, após a divulgação pela Imprensa dessa suposta postura anti-espírita por parte do fundador da
ICAB, ele foi compelido a lisonjear abertamente o Espiritismo. Alertava pois o antístese: “A interpretação malévola, dada pelos romanos, a algumas declarações feitas por mim em relação ao Espiritismo, não podem e não devem ter essa interpretação, porque eu estaria fugindodos Estatutos da ICAB, que mandam respeitar todos os Credos Religiosos.’’ (15)
E, em um tom mais cordial, São Carlos procurava descrever o Espiritismo dizendo: “As teorias espíritas foram tão bem descritas por Allan Kardec, em seu Evangelho… Por que combate a Igreja Roman o Espiritismo? Ele crê em Deus, pela ação da sua vontade e sabe que esse Deus cria os flúidos que, de todos os lados, nos cercam, os quais contém as essências espirituais e os germes donde saem os mundos e todo o reino da natureza, para serem levados, segundo as leis imutáveis e eternas, do infinito pequeno ao infinito grande. ‘Tempos virão, diz Allan Kardec, em que a terra progridirá o mesmo passo que os vossos e se elevará como essência, purificando-se e eternizando-se’. As transformações sucessivas, porque a terra tem passado, desde que saiu do seu estado de fluidez incandescente até os nossos dias, são a obra de preparação e de progresso graduais dos reinos, mineral, vegtal e animal e ainda o reino humano, à qual seguirá no futuro, a obra de depuração e transformação por meios progressivos, novos, graduais e contínuos dos flúidos planetários, minerais, vegetais e humanos.
Os elementos tem que mudar de natureza em cada nova fase que a humanidade atravessa. As matérias se depuram e progridem sob a ação espírita e o sólo tem que satisfazer as necessidades das gerações humanas que o habitam.
Bastariam estas palavras, para destruir, por completo, as más interpretações dadas.
No entretanto, a ICAB, com essas palavras, joga por terra a destruição da terra, como ensinam os romanos. Deus nunca destrói o que fez, mas transforma. A terra será purificada, quando formos substituidos na nossa rota e na rota do sistema solar por outros planetas, com outros seres, encontrando-nos, um dia, finalmente, em material fluídica Divina, contribuindo como elementos de Sua Eterna Grandeza junto a Deus, em
união com Maria, Jesus de Nazaré e todos os espíritos que souberam sofrer e purificar-se, para poder enfim viver eternamente na sublime bemaventurança, que, a todos, é reservada como suprema recompensa. Assim temos: A Era Imaterial, a Era Material e a Era de Depuração.
Penso que com estas palavras estão desfeitas as intrigas entre a ICAB e o Espiritismo.’’(16)

CAPÍTULO III

Visão Icabense sobre o Umbandismo

Ao terminar esta excursão que empreendemos pelo campo do espiritualismo, chegamos ao momento em que, após ter estudado o Espiritismo de tendência kardecista e seu relacionamento para com a ICAB, nos encontramos defronte de um outro aspecto do espiritualismo: O Umbandismo.
Advertimos, entretanto, que devemos tomar cuidado para não cair no erro de confundir o Espiritismo com o Umbandismo. Ao contrário do Espiritismo, o Umbandismo está repleto de elementos cristãos, sincreticamente ritualizados com as práticas religiosas dos indígenas e dos africanos.
A Visão do Catolicismo Brasileiro, para com o Umbandismo pode ser analizado de três formas distintas: Primeiro, a Visão Antropológica; segundo, a Visão Religiosa; terceiro, a
Visão Doutrinária.
Procuremos, através deste método, entender as Visões da ICAB e consequentemente a do seu fundador, acerca da Umbanda; prevenimos, entretanto, que este termo, neste presente estudo, às vezes é tomado como sinônimo de Candomblé, Macumba, Vodú ou Quimbanda.

10. Visão Antropológica

No Brasil, o Catolicismo Romano foi declarado como religião oficial, cabendo aos indígenas e aos africanos escravizados, converterem-se, forçosamente, nesta nova religião imposta pelos broncos europeus. Como resultado desta imposição nasceu uma nova expressão religiosa sincretizada com essas três diferentes culturas, a saber, o Umbandismo.
São Carlos entendia que os elementos primitivos expressos no Umbandismo deveriam ser respeitados; mesmo porque, se observarmos antropologicamente, essas expressões ancestrais tem como função mediar um relacionamento entre o homem e a Divindade.
Sem embargo, quando a religião é imposta à determinada sociedade, esta poderá destruir importantes valores familiares, os quais, foram preservados por grupos étnicos, oriundos de uma crença distinta da Religião Oficial. Observando o aspecto antropológico, definia São Carlos: “O laço da descendência é o que constitui a família objetiva. Esse laço forma o enlace biológico, sociológico, cósmico.“(17)
Compreender essas primitivas crenças, manifestas através do Umbandismo, tornava-se para a ICAB um desafio. Portanto, nada mais eficiente que entender este fenômeno religioso, através do caminho antropológico.
Estudar a Umbanda, enquanto fenômeno religioso, não significaria, necessariamente, para a ICAB, abandonar a sua tradição genuinamente católica para buscar nas primitivas religiões indígenas ou africanas uma nova forma ritual ou de crença. Respeitar diferentes expressões religiosas significaria reconhecer que: “em épocas anteriores ao Cristianismo, a Humanidade possuia religião uniforme na sua essência. Os povos cultuavam a Religião Universal e possuíam a crença em um Deus Único” (18), como bem assinalava São Carlos.
Dialogar com as diferentes expressões religiosas, era para a ICAB, erguer um estandarte libertador, isto em um momento em que o Catolicismo Romano rotulava as primitivas religiões africanas e indígenas de selvagens e heréticas. Esclarecia pois o bispo de Maura: “É falso, absolutamente, falso o que propala o Vaticano, dizendo que os povos eram bárbaros, selvagens e heréticos. Bárbaro, selvagem e herético é quem nos legou esta civilização pagã e nos entravou o progresso, subjulgando-o a dogmas aparentemente espirituais, para realce da política de domínio temporal dos povos, mediante a prática do fanatismo religioso, que conserva a Humanidade na ignorância, abrindo caminho à depravação de costumes. “(19)
O êxito que logrou a ICAB em observar a Umbanda sob o aspecto antopológico, foi reconhecer que tanto os indígenas, quanto os negros, foram injustiçados por meio de um teologia embranquiçada, que fascilitou, não somente a destruição dos seus valores espirituais, mas também a exterminação de ricas tradições. Isso através de um Catolicismo imposto e de uma escravidão deshumana.
Assinalava pois, São Carlos: “O Brasil muito deve ao Preto Africano, quer na sua formação, quer na sua evolução espiritual e material. “(20)



11. Visão Religiosa

A religiosidade exercida na ICAB é genuinamente Católica. Tanto a sua doutrina quanto o seu ritualismo é virtualmente Católico. Em suas bases, “a ICAB aceita os Evangelhos, como tradições históricas em sua substância, com caráter profético-litúrgico, contendo o ritual da páscoa cristã, nos primeiros tempos. “(21)
Sem embargo, a abertura ecumência da ICAB em procurar manter um diálogo com outras religiões, é um fator histórico que faz parte da sua própria origem. Citava São Carlos a frase de A. Leterre: “Quem conhece uma só religião, não conhece nenhuma, pois quem ouve um sino, só ouve um som, não podendo, portanto, saber se está afinado. Recorre-se, então, ao diapasão. “(22)
Esta citação em nada compromete a identidade Católica da ICAB; ao contrário, conhecer outras modalidades religiosas, fortalece o entendimento acerca do Cristianismo, como o mais alto e evolutivo grau em que o sentimento religioso da humanidade pôde atingir.
Antes de analizarmos a Visão Religiosa dispensada pela ICAB para com o Umbandismo, é necessário entender que esta crença é composta de três modalidades distintas, a saber: A Religiosidade Indígena, a Religiosidade Africana e a Religiosidade Católica.

12. Religiosidade Indígena

Ao contrário do que alguns pensam, a palavra Umbanda não foi um termo trazido da África pelos escravos; ao contrário, é um vocábulo sagrado da língua Abanheenga, que era falada pelos integrantes do tronco Tupy.
Acredita-se que a liturgia mítica dos caboclos deriva-se do antigo culto ao deus Tupã concebido como divindade suprema de todos os índios brasileiros. E, por sua vez, o culto a Tupã seria uma reminiscência do culto ao ainda mais antigo deus Pã.
É certo que São Carlos utilizava-se de uma linguagém Católica para anunciar o Cristianismo. Para ele a solução dos problemas sociais encontravam-se nos Evangelhos. Dizia ele: “A solução de todos os problemas do Brasil está na observancia exata do Evangelho e não na crendice de Papas, de dogmas absurdos, de mistérios, que não existem.” (23)
Todavia, ser porta voz do Cristianismo, através do Catolicismo, não o insentava de criticar o próprio Cristianismo, enquanto religião oficial; ou o Catolicismo, sob a modalidade romana. Afirmava pois, o fundador da ICAB: “A base cristã que transparece nos textos evangélicos e nos ensinamentos dos seus primeiros doutores morreu, como força educadora, nas catacumbas de Roma ou com os seus mártires, logo nos primeiros séculos do apostolado, quando ( o Cristianismo ), de perseguido passou a perseguidor. Por isso, voltando ao Cristiansimo dos primeiros séculos, não somos daqueles que pensam que esse Cristianismo é a solução única da Humanidade, tal-qual ele atravessou esses dois mil anos. Não, porque esse tipo de Cristianismo pode ser tudo, menos o Verdadeiro Cristianismo. “(24)
Em outras palavras, o tipo de Cristianismo anunciado pelo Catolicismo brasileiro deveria ser um tipo de Cristianismo tolerante, auto-reflexivo e libertador.
No caso da religiosidade indígena, apresentada pela Umbanda através de uma nomeclatura nagô para com os elementos ritualísticos ( comidas e oferendas ); deveria ser tolerada e respeitada pelos fiéis icabenses, baseando-se para isto, na Liberdade Religiosa.
A aplicação e a conquista da Liberdade Religiosa, para São Carlos, não deveria resumir-se tão somente para índios e negros escravizados. Também a sociedade precisava libertar-se do julgo de uma religião imposta sobre as demais; ainda que a favorecida se apresentasse como a legítima porta voz do Cristianismo.
Sem embargo, transformar um índio em caboclo, era um processo que começava muitas vezes pela conversão de uma alma selvagem à fé cristã. Sob esta perspectiva, também o romanismo foi alvo das críticas do bispo brasileiro. Dizia ele: “O Verdadeiro Cristianismo é o amor ao próximo. Esse atual Cristiansimo é escravocata, porque escravo não é somente o preto do Império, mas o homem subjulgado ao dolar, num regime de desigualdade. A liberdade espiritual, que tanto reclamava a Primitiva Igreja para os seus adeptos, definitivamente alcançada com o Édito de Milão ( 313 d.C.); no século VI, converteu-se em monopólio de casta sacerdotal, para os ortodoxos; e, em crime ediondo, possível de pena de morte, para os dissidents ou insubmissos à fé dogmatizada.”(25)
A Igreja Católica Brasileira, por sua vez, entendia que se deveria respeitar a religiosidade dos aborígenas, mesmo porque, ela apresenta ricas tradições ancestrais. Estas crenças milenares, nada tem que ver com a rotulação preconceituosa de selvagismo ou heregismo, como fazia entender o romanismo. A visão crítica da ICAB apresentada em relação à religiosidade indígena era a de lamentar o fato de o Catolicismo Romano, através dos Jesusitas, ter conseguido exterminar importantes tradições ancestrais, por meio de uma catequese imposta.

13. Religiosidade Africana

Após termos finalizado esta etapa de nossa excursão pelo campo da religiosidade indígena, estamos aptos agora, para suncitamente desvendarmos um outro caminho que também caracteriza o Umbandismo, a saber, a religiosidade africana.
Esse tipo de espiritualismo incorpora certas noções religiosas dos negros yorubá e bontú, ou seja, crenças em espíritos ligados à Natureza.
A influência das crenças africanas nas modalidades espiritualistas se faz presente no Vodú, na Quimbanda, na Umbaanda, na Macumba e no Candomblé. Mesmo que o nosso estudo não pretenda comparar as diferenças entre essas modalidades espiritualistas, tomando-as, tão somente, como sinônimos; é mister relembrar que apesar de parecidas, a Umbanda não é como a Macumba, ou seja, um produto casual de noções e práticas heterogêneas; mas uma modernização consciente de antigas tradições africanas e indígenas.
No Brasil, até o Estado Novo de Getúlio Vargas, a intolerancia religiosa ocasionava dificuldades sem precedents para o espiritualismo. Para que a Umbanda podesse sobreviver, a exemplo de outros cultos africanos nos séculos anteriores, foi necessário abraçar o Sincretismo com os santos católicos e tornar-se criativa para sair da clandestinidade e ficar dentro da lei.
A ICAB intentava, através desse relacionamento com os cultos afros, compreender as etapas, que por certo passaram o sentimento religioso da Humanidade. A começar pelos atos mágicos e as crenças primitivas, das quais o Ubandismo é um rico exemplo, até as construções metafísicas, ou arroubos místicos, dos grandes apóstolos do Cristianismo.
Afirmava São Carlos: “A religião e a magia são obras do homem. Ambas devem ser consideradas cientificamente. Quando a ciência física caminha vertiginosamente para dar a Humanidade uma vida melhor, seria crime perturbar o progresso da Ciência Natural Desconhecida, que se oculta através das manifestações dos espíritos, quer sejam da magia negra (africana) quer da branca (européia).” (26)
É óbvio que por causa dessa aproximação entre a ICAB e essa modalidade de espiritualismo, o chefe da Igreja Brasileira, veio a sofrer as mesmas rotulações que sofrera anteriormente por causa do seu diálogo com o Espiritismo; agora ele era rotulado ironicamente de macumbeiro. Entretanto, esta acusação, que objetizava denegrir sua imagem perante a opinião pública, não surtia efeito; ao contrário, enchiam-no de ânimo para revidar, dizendo: “Hoje eu sou macumbeiro e macumbeiros são todos os espíritas, porque como esses 130.000 hereges (faz alusão à morte de Santa Joana D’Arc e seus seguidores) não admitimos a intromissão da Igreja Romana nos negócios públicos do Brasil.” (27)
Assim, o sentimento do sagrado via as escapadelas do Catolicismo tradicional, poderia significar uma ameaça doutrinária a ICAB. Isso se não fosse a experiência passada de que a imposião do Catolicismo aos escravos, gerou, não a felicidade prometida, mas formas maiores de opressão. Também se não fosse a postura do fundador da Igreja Brasileira que teve sempre uma abertura para o diálogo; não através de um sincretismo superficial, mas um sincretismo inevitável, num processo de evolução, inclusive vital, para a religião. Foram tais atitudes, por certo complexas e desconfortantes, que ajudaram a minimizar, uma vez por todas, as perseguições empreendidas pelo romanismo contra o espiritualismo, enfraquecendo, finalmente, um dos mais firmes pilares do racismo antinegro.
A Igreja Brasileira entendia que a religiosidade dos negros africanos, como qualquer outro segmento religioso, deveria ser respeitado e tolerado em uma sociedade livre e democrática. Negar aos afro descendentes o direito de reencontrar seus valores culturais, seria o mesmo que acorrentá-los novamente em um sistema escravocrata e cruel, como outrora vivenciaram os seus ancestrais. Apesar de a religiosidade cristã da ICAB ser diametralmente oposta à religiosidade africana, no que diz respeito à sua fé e ao seu credo; ainda assim, nada justifica que uma religião individual qualquer, receba proteção do Estado para perseguir outras religiões ou seitas, mesmo que a perseguidora, pretenda sustentar o estandarte do Criastianismo.

14. Religiosidade Católica

Como vimos anteriormente, a Umbanda é composta de elementos da religiosidade Indígena e Africana; sem embargo, nela também poderemos encontrar elementos da religiosidade Católica.
O sincretismo entre o Ubandismo e o Catolicismo é tão intenso que um único Orixá pode ser associado com diferentes santos cristãos. A título de exemplo, poderemos perceber uma associação sincrética entre o Orixá Xangô com São Judas Tadeu, sendo que sob a modalidaade de Xangô das Pedreiras ele se associa com São Jerônimo, enquanto Xangô da Cachoeira é associado com São João Batista.
Esta associação sincrética existe como resultado da antiga imposição do Catolicismo Romano como Religião Oficial. Os negros, na verdade, utilizavam os santos católicos como uma roupagem exterior, aparente; já que internamente, praticavam sua religiosidade nativa.
O problema é que com o passar dos anos, essas associações sincréticas estavam tão enraizadas nesta nova modalidade religiosa, que nem mesmo as disposições empreendidas pelo catolicismo, no intento de dissasociar-se dessa nova modalidade espiritualista, teve êxito.
Um bom exemplo, que serve para ilustrarmos a consciência do umbandista em relação ao Catolicismo, é tomarmos a mais famosa sacerdotisa do culto afro brasileiro como parâmetro. A Babalorixá Menininha de Gantois ao ser questionada pelos censos demográficos acerca da religião praticada, respondia: ‘eu sou católica’. Tal declaração a possibilitou receber de um sacerdote romano os serviços fúnebres católicos, após a sua morte.
Em relação a ICAB, o que seu fundador desejava era buscar a unidade religiosa na diversidade aparente das várias religiões em particular. Ele sabia que até mesmo as liturgias oficiais do Catolicismo eram frutos de um aglomerado de práticas não genuinamente judáico-cristãs. Por isso ele não se opusera à contribuição do valores positivos que as religiões africanas poderiam oferecer à liturgia Católica. Dessa forma, os tradicionais órgãos davam espaço aos atabaques, enchendo de beleza e formosura o culto em homenagem ao Criador do Universo. Todavia, acerca da abertura da ICAB para com o Umbandismo, o gesto mais inusitado e polêmico do bispo de Maura foi em declarar que a ICAB respeita de tal forma a liberdade religiosa que “se pode ser católico e fazer parte da Umbanda.” (28) Tal declaração, num primeiro momento, pode até chocar a ortodoxia Católica; mas, ao pensar no sincretismo religioso como resultado da imposição da fé Católica aos escravos, nada mais justo que reconhecer esse fenômeno religioso tão característico do Catolicismo Romano, particularmente no Brasil.
A Macumba, enquanto vertente espiritualista, “é uma cerimônia fetichista de fundo Negro com influência cristã, acompanhada de danças e cantos ao som do tambor; o mesmo que Candomblé, Terreiro e Xangô. A esta definição, acrescentava o bispo de Maura: Será isso? Não sera a Macumba o próprio tambor, que faz nascer o ponto das cantigas religiosas invocadoras da divindade e imprime a direção das cerimônias e festas, entra em contato o católico romano, invocando o Sr. do Bom Fim, Santa Bárbara, etc. …Se os romanos tirarem os macumbeiros das Igrejas, estas ficarão vazias.”(29)
O intento de São Carlos era apresentar Jesus Cristo e a sua sã doutrina, purificada dos dogmas humanos, àqueles que praticavam uma religião distinta. Dizia ele: “A ICAB respeita todos os cultos pois a sua missão é doutrinar e não impor.” (30)
Este é o balanço que podemos fazer em linhas gerais da Visão Religiosa da ICAB em relação ao Umbandismo.

15. Visão doutrinária

Nos tópicos anteriores, desenvolvemos o que eu assinalava como Visão Antropológica e Religiosa da ICAB frente ao Ubandismo. Agora, estamos aptos a decorrer sobre a Visão Doutrinária da ICAB acerca desta crença espiritualista. Antes, porém, considero necessário rafirmar radicalmente a identidade Católica da ICAB ante essa modalidade espiritualista e a sua clara intenção em reagregar os Católicos, que por uma ou outra razão, frequentavam as associações umbandistas. Era tarefa da ICAB evangelizar indistintamente a todos, trazendo-os “à pessoa de Cristo, procurando a harmonia e a concordia entre todoas as religiões. (31)
São Carlos entendia que o crescimento do espiritualismo ocorria porque muitos católicos, decepcionados com a hierarquia romana, voltavam-se para essas modalidades religiosas, tais quais ovelhas desgarradas à procura de um bom pastor. Para resgatar estes fiéis desgarrados, ele defendia o uso do método educativo, através da Liberdade Religiosa; e, regeitava o método coecitivo, através da violência e da Excomunhão.
Esclarecia São Carlos: “Uma parcela ponderável de nossa população, e não uma minoria insignificante, se volta, hoje, para outras fontes de consolação, de caridade e de amor ao próximo talvez por haver desesperançado de encontrar no seio da alta hierarquia eclesiástica romana o conforto espiritual. Isso, porém, não justifica que se pregue o uso da coação e da violência contra esse imenso rabanho em busca de novos pastores. “(32)
Evidentemente, que para o fundador da ICAB, os centros ubandistas não eram os lugares apropriados para as ovelhas católicas pastorearem; mas, tão pouco se poderia incitar os Católicos contra os espiritualistas, isto, segundo ele, pelo simples preceito cristão:“ Amai-vos uns aos outros. Respeitemos a dignidade da pessoa humana no seu mais sagrado e inviolável direito: o da Liberdade de Consciência.” (33)
Tinha São Carlos a consciência que essas perseguições empreendidas contra o espiritualismo, originavam-se, não por parte dos simples fiéis; mas por parte da cúpula romana através da sua política de intolerância religiosa. Esclarecia ele: “Os perseguidores do espiritualismo não se encontram na grande massa dos católicos do país, incapazes de abrigar em seus corações rancores fraticidas; mas em certos grupos de interesses, empenhados em perturbar, por outros motivos e com outros fins, a tranquilidade e a paz dos nossos lares. “(34)
Por último, consideramos que a Visão Doutrinária da ICAB em relação ao Umbandismo resumia-se tão somente em respeitar as diferentes expressões religiosas alí encontradas, quer fossem indígenas ou africanas. De fato, a ICAB também procurou resgatar os aspectos cristãos encontrados na Umbanda através de um Catolicismo Popular; e, por meio deste, buscou resgatar os católicos para uma nova modalidade de Igreja, mais tolerante e compreensiva para com os espiritualistas.
Defendendo a liberdade e lutando contra as perseguições religiosas, a ICAB e o seu fundador nos ensinou que o ódio e a intolerância não encontram fundamentos nos princípios evangélicos. Comentava pois, o antístete brasileiro: “O que há, portanto, no fundo desse ódio e dessa intolerância tão desenvoltamente pregados e açulados e que é o que há de menos cristão e de menos conforme à caridade do Cristo e ao espírito dos Santos Evangelhos – é a insídia dos imperialistas, tentando por todos os modos implantar a desunião e a desarmonia no seio da família brasileira, para mais facilmente dominar-nos.” (35)

COMCLUSÃO

Para terminar, convém resaltar que tanto o espiritualismo quanto o icabismo, devem-se desapegar-se de alguns aspectos religiosos, que talvez em determinada época foram necessários, mas que não o são mais.
Da mesma maneira em que a ICAB é consolidada em sua identidade puramente Católica; igualmente o espiritualismo, em qualquer das suas vertentes, deve consolidar-se enquanto religião distinta. Os umbandistas devem entender, por exemplo, que São Jorge e São Sebastião que viveram no Século II e São Jerônimo que viveu no Século III da nossa era; não são o Ogum, o Oxossi e o Xangô, respectivamente.
Neste balanço, o que tentamos fazer, em linhas gerais, foi esclarecer que o relacionamento entre a ICAB e as modalidades espiritualistas, deu-se apenas em nome da Liberdade Religiosa e não por nenhuma espécie de afinidade doutrinária.
A propósito, o cuidado dispensado por parte do bispo de Maura, em relação à proteção da identidade Católica da ICAB, era para ele tão sério, que os sacerdotes que fossem especialmente designados a celebrar em Centros, deveriam, previamente, ser preparados. Após essa cautelosa preparação, eles eram autorizados a oficiar missas, zelando sempre, para que esta permanecesse isenta de qualquer influência doutrinariamente contrária ao Católicismo. Esclarecia o próprio bispo: “Para que a assistência espiritual que a ICAB vem dando aos Centros Espíritas produza resultados benéficos, torna-se necessário que todo o serviço seja controlado, por mim, pessoalmente. Daí a necessidade de ser combinado, comigo, toda e qualquer assistência religiosa, sendo destacado para este fim, um sacerdote. Essse levará credencial minha autorizando-o a prestar a assistência pedida.” (36)
Assim como a ICAB recebeu apoio do espiritualismo, em um momento difícil, devido as perseguições investidas pela Igreja e pelo Estado; assim também a ICAB sentiu-se no dever de apoiar quem no princípio a defendeu, enquanto instituição autocéfala. Dizia São Carlos: “Não temos ligação alguma, direta ou indiretamente, com a Legião da Boa Vontade e seus dirigentes. Mas não vemos razões para condená-los porque praticam esta ou aquela doutrina, ou interpretam os Evangelhos desta ou daquela forma. Não vemos nisso pedra de escândalo, uma vez que estão no livre exercício de uma prerrogativa que nossa Carta Constitucional, segundo nos parece, ainda em vigor, assegura indistintamente a todos os cidadãos. “(37)
Entretanto, não queria terminar este estudo, sem apresentar, por assim dizer, em poucas linhas, a linguagem puramente irônica, humana e apaixonada do bispo de Maura. Ele se
afastava dos requintes eruditos que lhes eram característicos, ao defender a ICAB quando esta sofria acusações de possíveis envolvimentos doutrinários com a Macumba. Afirmava ele que “a Macumba não é outra coisa senão verdadeira Demonomania.” (38)
Certa vez, um ex sacerdote da ICAB foi noticiado na revista O Cruzeiro, através de uma manchete intitulada O secretário do bispo de Maura, ajoelhado aos pés de Ogum. A resposta dada a essa manchete, por conta desse artigo, é um bom exemplo que ilustra sua irônica linguagem. Na verdade, esse ex sacerdote jamaias fora seu secretário; e, ao defender-se dessas injustas associações, ele respondia: “O Papa nunca excomungou o Padre Morais e muito menos arrancou-lhe a batina. Por sua vez, a ICAB também não lhe arrancou a batina cinza, que foi, por ele, trocada pela preta, a fim de se dedicar às suas bruxarias, arte na qual ele se especializou.” (39)
O tom irônico é percebido ao referir-se às trocas das batinas. A cor cinza é a cor utilizada oficialmente pela ICAB, enquanto a cor preta é a cor utilizada historicamente pela Igreja Romana; e, nesta declaração, a cor preta é sarcasticamente associada a bruxaria.
Ao afirmar que “o Deus do Amor, encontra-se no Espiritismo, enquanto o Deus do Temor no Romanismo,” (40) o bispo procurava ironizar ao rebater as acusações feitas à ICAB. E, respondia mais veementemente dizendo: “O Governo, os Cardeais e em geral toda a Igreja Romana, estão precisando de banhos de descarga, que encontrarão, certamente, na prática da Umbanda, o Grande Santo.“(41)
A bem da verdade, o bispo brasileiro procurava demonstrar que “o Catolicismo Romano admite o Espiritismo,” (42) ao incorporar, em sua doutrina, a idéia platónica de Inferno e o seu atenuado Purgatório.
Fato não menos curioso é que apesar de toda a predisposição do antístete para o ecumenismo e a sua pessoal luta em prol da Liberdade Religiosa, a utilização de uma linguagem sarcástica para atingir os que o atacavam, era seu marco. Dizia ele: “É por isso que o papa não podendo recorrer ao nome de Cristo, para excomungar os que se lhe opõem, recorre ao nome do Diabo e às práticas macumbeiras agradáveis ao Príncipe das Trevas, seu aliado, para cumprir, dentro do Vaticano, transformado em Terreiro, o ritual da excomunhão!. Forte blasfêmia! Belíssimo Evangelho o do papa! Não! Cristo jamais permitiria tamanha negação ao seu sublime Amai-vos uns aos outros.” (43)
Mas, apesar de São Carlos lutar para que todas as religiões fossem respeitadas em seu livre direito de atuação; sua formação profundamente Católica falava mais alto em sua consciência cristã, quando, embaraçosamente, ele se via envolvido em cerimônias ecumênicas onde o espiritualsimo se fazia presente. Diz a sabedoria popular que uma fotografia fala mais claro que mil palavras. Tomemos como exemplo um jornal da época, nele foi publicada uma fotografia, onde, aos pés do bispo de Maura, prostava-se uma mãe-de-santo em transe. Nesta foto podemos ver revelada uma intensa repúdia e reprovação àquela manifestação transeúnica, estampada claramente na face angelical de São Carlos do Brasil.
Agora a nossa investigação vai-se encaminhando ao fim, com isso, temos já uma base sólida para afirmar categoricamente que a abertura ecumênica da Igreja Católica Brasileira para com as modalidades espiritualsitas, em nada comprometeram a autenticidade cristã desta instituição tradicionalmente Católica.
Apontar São Carlos do Brasil como um espiritista, tão somente por abrir-se a um diálogo ecumênico para os que pensam distinto; é o mesmo que apontar Santo Agostinho de
reencarnacionista, tão somente por ter tido afinidades com as idéias platónicas.
Atualmente, procurar justificar que o clero icabense utilize Centros Espíritas ou Terreiros de Macumba para oficiar missas, é o mesmo que procurar justificar, em nossa era, a procura das catacumbas em cemitérios, por parte de cristãos contemporaneos, para oficiarem seus cultos em adoração a Deus.
Talvez, exatamente para se fazer entender, é que São Carlos despe-se da sua rica linguagem acadêmica, proibindo, veementemente, o seu clero, de no afã de um diálogo ecumênico, envolver-se doutrinariamente com seitas não cristãs. Dizia ele: “A Igreja Brasileira não é uma seita, sistema que se afasta da opinião geral, mas é puro Cristianismo.” (44) E, por causa dos exageros praticados por alguns icabenses, que não conseguiam separar o joio do trigo, ou seja, a de limitar-se a sua função puramente católica, o Bispo brasileiro é inpulsionado a alertar dizendo:
“Não ordenei Padres para que os mesmos fossem cooperar com Seitas mil vezes malditas as quais sempre detestei, não, mais para que os mesmos Sacerdotes e Bispos por mim ordenados e sagrados mediante fictícia cooperação caridosa, possam ganhar os fiéis, de tais Seitas malditas, que são numerosos, devido ser nosso povo muito sem cultura, e muito enganado por intrujões biblistas, possam ganhar tais adeptos do erro ao verdadeiro Redil. Padres e Bispos por nós ordenados e sagrados que forem a Centros Espíritas, Tenda de Umbanda, Cartomante, Terreiro,… ou demais lugares duvidosos, única e exclusivamente com o fim de encher os bolsos sem chamá-los ao verdadeiro grêmio… Tais Sacerdotes e tais Bispos nesse caso por si mesmo, já estão suspensos de ordens, não podendo nem mesmo usar as vestes sacerdotais nas ruas e praças das cidades e vilas, nem apresentar-se como meu representante. “(45)
À luz desta pesquisa que agora se finda, foram levantadas interessantes questões que pretendem, certamente, induzir a um límpido conhecimento histórico acerca das razões que possibilitaram duas concepções religiosas tradicionalmente distintas, a buscarem um diálogo ecumênico. O resultado desse estudo, no que se refere ao envolvimento doutrinário da ICAB com os segmentos espiritualistas, é resumido nessas declarações do Santo Fundador da Igreja Católica Brasileira: “Os sacerdotes depois de ordenados, entrar em qualquer outra sociedade, não. Como sacerdote, o indivíduo atinge o máximo, devendo lidar com os maçons, espíritas, protestantes, etc., no exercício do Sagrado Ministério, não devendo dar preferência esta ou aquela organização” (46). E conclui: “A ICAB pode se unir a todos os cultos sem se confundir com nenhum deles.” (47)


Nota oportuna:

Após termos finalizado esta pesquisa, encontramos na Luta no. 20, pg. 90, um protesto e um esclarecimento de São Carlos, referente às más interpretações acerca de uma visita feita a um Centro Espiritualista, o qual, achamos relevante aquí abordarmos.
Primeiramente, Dom Carlos esclarece que por ter sido gentilmente convidado a visitar um Centro, ele procurou corresponder a atenção e o carinho a ele prestado, pelo Sacerdote da Religião Africana – Joãozinho da Goméia.
Em Segundo lugar, ele visitou o Centro para, em prática observer, o que em teoria já sabia, ou seja, que o Umbandismo nada mais era que o resultado colhido pelos Jesuítas, por estes terem forçado uma cristianização dos negros africanos e dos indígenas.
Dom Carlos finaliza sua argumentação esclarecendo que era jsutificável sua presence naquela cerimônia, já que como Chefe da Igreja Brasileira, e como estudioso das Religiões Comparadas, nada mais natural que cientificamente observer o entrelaçamento entre os Continentes: Asiático, Europeu (Idade Média), Africano e Americano.

New York, USA, abril de 2006.



Refereências bibliográficas


1-Luta 24,p.90
2 - Ib. Idem
3 - O Diário – Jornal – Ano I n. ?, pg. 6, Rio
4 – Luta 11, p. 88
5 - Ib. Idem
6 - Luta 17, p. 31
7 – Luta 1
8 - Luta 24, p. 88
9 – Luta 1, p. 13
10 – Luta 1, p. 12
11 – Manifesto a Nação
12 – MNSMenina 49, p. 10
13 - Luta
14 – O Diário – Jornal – Ano I n. ?, pg. 6, Rio
15 – Luta 24, p. 87
16 – Luta 24, p. 88
17 – Luta Relig é Ciencia p. 5
18 – Luta 15, p. 4
19 - Ib. Idem
20 – Luta 24, p. 88
21 – Luta 1, Capa
22 – Luta 4, p. 5
23 – Luta 24, p. 97
24 – Luta 4, p. 65
25 - Luta 4, p. 65
26 – Luta 17, p. 30
27 - Ib. Idem
28 – Luta 24, p. 90
29 – Luta 17, p. 30
30 – Luta 24, p. 90
31 – Manifesto a Nação
32 – Luta 25, p. 37
33 - Ib. Idem
34 - Ib. Idem
35 – Luta 11, p. 38
36 – Luta 25, p. 35
37 - Luta 25, p. 37
38 – Luta 17, p. 30
39 - Luta 17, p. 30
40 - Luta 17, p. 31
41 - Ib. Idem
42 - Luta 17, p. 50
43 – Luta ?
44 – Luta 25, p. 41
45 – Mensagem Pastoral Restrita
46 – Carta ao Pe. Simplício
47 – Luta 10, p. 3.
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Comentários

mauro castagnaro disse…
Estimados amigos do ICAB,
soy un periodista italiano y estoy trabajando un ensayo sobre el catolicismo independiente en America latina.
Estaria interesado en recibir los 2 volumenes de "Chave da luta" y los libros "Igreja brasileira abencoada rebeldia" y "Sob o signo da liberdade.
Hice el pedido a traves de sitio internet de Icab pero no recibì respuesta. Trato entonces de comunicarme a traves de las e-mail de las diocesis.
Ustedes pueden enviarselo a mi en Italia? Cual seria el precio? Quantos dias se llevaria el envio? Como podria hacer el pago?
Esperando una respuesta, los agradezco.
Mauro Castagnaro
Via Civerchi 44
26013 Crema (Cr)
Italia
marina.elena@libero.it
Muito bom saber que na Itália alguém está escrevendo sobre a ICAB. Mas nós não somos membro da hierarquia da ICAB, apenas pesquisamos sobre a obra de DOM CARLOS DUARTE COSTA, que inclusive estudou aí na Itália nos anos da década de 1920.
Estou fazendo este comentário depois de 6 anos.

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