CONTRA O CELIBATO OBRIGATÓRIO - publicado originalmente no Jornal Rumos*



Sabe-se que a obrigatoriedade
do celibato não remonta
à fundação da Igreja por Jesus.
O próprio Pedro tido como
primeiro bispo da Igreja Romana,
era casado, pois o Evangelho narra
a cura de sua sogra por Jesus
(Lc 4.38). Ora se Pedro tinha uma
sogra, era por ser casado. Jesus
não impôs o celibato para os apóstolos,
se o fizesse estava contrariando
uma tradição no judaísmo
onde os sacerdotes eram casados.
João Batista era filho de um sacerdote,
Zacarias, que era casado com
Isabel (Lc.1.5). Por outro lado, São
Paulo na Carta a Tito, recomenda
que o bispo deve ser casado com
uma só mulher, não ser chegado
ao vinho e ter bons filhos (Tt.1:6).
Portanto não há justificativa bíblica
nem para a manutenção da obrigatoriedade
do celibato.
Na História da Igreja no Brasil
registram-se, pelo menos, dois importantes
momentos de luta contra
o celibato: Um liderado pelo
Padre Diogo Antonio Feijó em
1828, quando proferiu, na Câmara
dos Deputados, importante discurso
condenando o celibato obrigatório
e provando que o mesmo nãoera bíblico e sim anti-natural. Feijó,
como se sabe tinha mulher e filhos,
a Igreja Católica tolerava esta situação,
por força do Beneplácito e
Padroado, sistema incluso na
Constituição de 1824 que permitia
a indicação de cargos eclesiásticos
pelo Imperador.
O outro momento foi na década
de 1940 quando o bispo Dom Carlos
Duarte Costa, ex-bispo de Botucatu,
SP e bispo titular de Maura
(Mauritânia) à época, defendeu a
extinção do celibato obrigatório na
Igreja, dentre outras mudanças. As
divergências entre o prelado e o
Papa Pio XII culminou com a sua
excomunhão. Indiferente ao ato papal,
dom Carlos fundou a Igreja Católica
Apostólica Brasileira - ICAB,
tendo sido eleito bispo do Rio de
Janeiro e presidente da mesma. Na
Igreja por ele fundada o celibato não
é obrigatório.
Mais recentemente uma outra
autoridade da Igreja no Brasil se
manifestou contra o Celibato obrigatório
e pela ordenação de mulheres,
foi dom Clemente Isnard,
bispo emérito de Nova Friburgo-
RJ. Em seu livro: Reflexões de um
Bispo Sobre as Instituições Eclesiásticas Eclesiásticas
Atuais, ele diz textualmente:
"A Igreja faz atualmente
um esforço tão grande para abrir
e manter seminários com resultados
por vezes decepcionantes.
Por que tantos seminaristas deixam
o seminário antes da ordenação?
Não poucos por causa do
celibato". O celibato deveria ser
opcional e não obrigatório.
A maior mudança que a Igreja
Católica poderia fazer, neste momento,
seria abolir a obrigatoriedade
do celibato. A convivência entre
padres casados e celibatários,
seria uma riqueza para a igreja e a
revitalizaria. Os padres casados levariam
seus filhos suas famílias
para a Igreja, haveria uma integração
maior entre família e igreja e
isso a fortaleceria.
O IBGE está fazendo previsão
de que a partir da década de 30
deste século, o Brasil deixará de ser
um país de maioria católica, passando
os evangélicos a serem maioria.
Uma das inúmeras explicações
do avanço do número de evangélicos
é, na minha modesta opinião,
o fato do presbítero, o pastor, ser
casado e levar consigo toda a sua
família para a igreja. A família participa naturalmente, do dia da igreja.
O presbítero, sendo casado,
conhece os problemas da família e
do matrimonio e a partir de sua vivência,
orienta os seus fiéis.
Não se trata de abolir o celibato,
mas de deixá-lo opcional.
Aqueles que tiverem vocação
para a ordem, sendo casados ou
solteiros puderem realizar-se
como discípulos de Cristo, como
Ele o fez com os seus apóstolos.
Oxalá que a Igreja um dia se sensibilize
com esta causa.

(Francisco Artur Pinheiro Alves
Professor do curso de
História da Universidade Estadual
do Ceará e doutor em Educação
pela Universid Autónoma de
Asunción - Py.)

( * Fonte:
Acessado em 04/11/2012)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O MANIFESTO DO BISPO DE MAURA

CORRESPONDÊNCIA DE DOM CARLOS DUARTE DA COSTA